28/07/2015

Viagem

"Gostei do seu sapato", disse um amigo para mim certa vez.

"Legal, né? Eu comprei em uma feira de artesanato na Colômbia, achei super legal também", eu respondi. Foi o suficiente para causar reticências quase visíveis nele e na namorada e, se não fosse chato demais, eles teriam dado uma risadinha e rolariam os olhos um para o outro, como quem diz "que metido".

Incrível é que posso afirmar com toda convicção que, se tivesse comprado aquele sapato em um camelô da 25 de março, eu responderia com a mesma empolgação "Legal, né? Achei lá na 25!". Só que aí sim eu teria uma reação positiva, porque comprar na 25 "pode".

Experiências como essa fazem com que eu mantenha minhas viagens em 06 países, minha fluência em inglês e meus conhecimentos sobre temas do meu interesse (linguística, mitologia, filosofia etc) praticamente para mim mesmo.

Essa censura intelectual me deixa irritado. Isso porque a mediocridade faz com que muitos torçam o nariz para tudo aquilo que não conhecem. E assim você vira um arrogante. Te repudiam pelo simples fato de você mencionar algo que tem uma tarja invisível de "coisa de gente fresca".

Não importa que ele pague R$ 60 mil em um carro zero, enquanto você dirige um carro de mais 15 anos e viaja durante um mês a cada dois anos para o exterior gastando R$ 10 mil (dinheiro que você, que não quer um carro zero, juntou com o seu trabalho enquanto ele pagava parcelas de mais de mil reais ao mês).

Não importa que ele faça planos de viajar para ver a familia nas férias do próximo ano enquanto você sonha em visitar a Disney com seus filhos e junta toda moedinha que consegue economizar.

Não importa que você conheça uma palavra em outra língua que expressa muito melhor o que você quer falar. Você não pode mencioná-la de jeito nenhum! Mas ele escreve errado o português, troca "c" por "ç", "s" por "z" e tudo bem.

Não pode falar que não gosta de novela ou de Big Brother, senão você é chato. Não pode fazer referência a livro nenhum, ou falar que foi em um concerto de música clássica, ou você é esnobe. Não ouso sequer mencionar meus amigos que moram foram no exterior e que ainda me mandam um "hi my friend, miss you", correndo o risco de apedrejamento.

Pagar R$200 em uma aula de inglês não pode. Mas pagar mais em uma academia, sem problemas. Se eu como aspargos e queijo brie, sou "chique". Mas se gasto os mesmos R$ 20 (que compra os dois ingredientes citados) em um lanche do Mc Donald's, aí tudo bem. Gastar de R$30 a R$50 em vinho (seco, ainda por cima) é um absurdo. Mas R$80 em uma cerveja ruim na balada, ou em uma festa open bar… Tranquilo!

Meu ponto é que as pessoas que mais exercem essa censura intelectual têm acesso às mesmas coisas que eu, mas escolhem outro estilo de vida. Que pode ser até mais caro do que o meu, mas que não tem a pecha de coisa de gente arrogante.

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